Ruas do Centro

Tenho ficado surpresa com a quantidade de amigos que percebo que tem lido os meus textos dessa literatura de blog, como diria uma crítica de livros em uma palestra que presenciei.
Tudo bem! Confesso que tenho o hábito de pedir quinhentas mil vezes desculpa por alguma coisa que escrevo, pelo receio de ferir ou atingir alguém. Engraçado! Entretida num dos livros que leio enquanto faço meu caminho casa-estágio, percebi que este não é um defeito unicamente meu. Jorge Amado em "Tieta do Agreste" ao se apresentar como um narrador da história, a interrompe milhares de vezes para pedir desculpas pela forma que escreve, ou pela omissão de algum fato, ou profissão de um de seus personagens da trama.
Não me comparo a Jorge Amado, acredito que cada um tem seu espaço e seu tempo de escrita, e com certeza, não me sinto capaz de escrever belas e longas obras narrativas como esse o fez ao longo de sua vida. Apenas confesso sentimentos e opiniões num texto de blog, que aliás, comecei para poder sempre de algum modo estar perto de uma amiga, e se tornou um pouco do meu confessionário.
Toda vez que ando pelas ruas do Centro, me choco com a quantidade de "empregados da miséria" que fazem das calçadas e das praças seu meio de sustento. Das crianças que ficam na Chile pedindo esmolas ou vendendo balas para matar a fome, mas que dificilmente aceitam comida quando alguém oferece na falta de uns trocados. E das mães e pais que vejo fazendo as sacolinhas de balas que as crianças vendem para adultos cheios de piedade, acabando por fazer girar a máquina da miséria, que às vezes duvido ser tão miserável assim.
Perco as contas de quantas vezes vejo pedintes próximos a cabines de polícia e de guardas municipais circulando livremente, sem perspectiva nenhuma de melhoria, tanto das condições de vida desses quanto da imagem da cidade. Não recrimino quem ajuda comprando balas ou dando esmolas, mas acredito que tudo isso seja fruto não apenas da falta de emprego, de uma boa instrução escolar, mas também de uma sociedade que se satisfaz em ajudar dessa maneira. Será que existiria toda essa massa de pedintes se a sociedade não quisesse? Não dou esmolas! Acredito que existem outros modos de ajudar.
Que tal mudarmos o nosso modo de agir?! Em vez de esmolas e balinhas, que tal levantarmos a voz para as instituições para melhoria da saúde, educação e transporte? Porque, talvez você não saiba, muitos dos que dormem embaixo de marquises do Centro são pessoas que moram longe e preferem dormir em condições precárias para ir ao trabalho durante a semana, vendo suas famílias somente nos finais de semana.
Não sei... foram alguns poucos pensamentos que me surgiram enquanto ao fazer meu caminho de chegada (ou saída) do estágio. Coisas que me incomodam, me tocam e chocam...

...

...

E é só!

Fui!

Comentários

Uma das coisas chatas de publicar é não ter certeza se alguém vai sequer olhar. Mas comecei um blog só pra poder escrever, se alguém lê já é lucro, é legal!

Não me leve tão a sério. Falei pra não se desculpar, porque penso que já tem tanta coisa pra nos sentirmos mal, um blog não deveria ser mais um. Sei lá...

Hum, questões sociais...?! Não sei muito bem o que falar, não me acho a pessoa mais indicada pra isso, acho que ainda vivo numa bolha.
Mas acredito que Deus dá o frio conforme o cobertor. Nada acontece de graça.
Não to falando que quem está na pior mereça isso, mas que simplesmente era pra ser.
E não falo isso na posição de uma burguesinha, porque não sou. Meu pai sofreu todas as mazelas que você possa imaginar, fome, trabalho infantil, etc, etc, e hoje vivemos não num mar de rosas, mas sim num mundo de constante comedimento, porém a minha casa é ótima e é minha. E foi papai e mamãe que conquistaram. E cada um deles saiu do absoluto nada.

Sei que não é a melhor das opções, mas eu acho que pra pessoa se submeter a pedir é porque precisa. Já dei o que me faria falta, mas dei. Só me acho otária às vezes quando saio de manhã pra faculdade, tem um alguém dormindo numa marquise e de noite quando chego aquela pessoa ta lá dormindo e sei que passou o dia assim.
Existem pessoas que devem ser ajudadas, mas nem todas essas querem. O caminho certo não é o mais fácil.
Um dos trabalhos que mais está em falta é pedreiro. O cara que fez uma obra aqui em casa recentemente era foda, trabalhou feito um condenado, mas ganhou algo de acordo com a perfeição dele. As filhas dele estão na escola, ele tem a casa dele, o irmão é auxiliar dele, ele rala pra caramba, mas ganha a vida honestamente. Sabe quantos dos que vivem de esmola estão dispostos a trabalhar 10 horas por dia quebrando e refazendo parede? Poucos ou nenhum.
Já vi gente jogar comida fora e ficar com dinheiro no fim de um dia pedindo, e não vi isso uma ou duas vezes, vi um monte!

Quanto à política? Eles também têm culpa, uma grande parcela dela. Na teoria até uma criança de 10 anos sabe o que deve ser feito, mas toda a bandalha é que impede isso. Eu me sinto muito mal quando começo a pensar no lado mau das pessoas, por isso não gosto de política, procuro fazer minha pequena parte para com o mundo sem ter que me misturar com isso.

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