Ao Comandante do 17° BPM
Bem, eu tenho 26 anos. Nasci e me criei na Ilha do Governador. Sempre me esforcei e, por isso, acabei por conquistar a minha vaga da graduação em uma universidade federal, e hoje, sou bolsista do mestrado em uma universidade na Gávea.
Eu não tenho carro. Pago impostos e contas em dia. Não bebo e nem uso qualquer outro tipo de droga. Toda vez que levo quase uma hora (às vezes até mais) para atravessar a ponte velha do Galeão fico chateada. Principalmente quando a causa de tal engarrafamento é a blitz na entrada na Ilha.
Não sei se o senhor mora na Ilha, mas eu moro e gosto muito da Ilha, porém enfrentar trânsito completamente parado por causa de blitz (na frente da base aérea) não é nada nada nada agradável. Até porque todos os dias para ir ao Centro, eu e outros insulanos dividimos a Linha Vermelha com moradores da Baixada e outras localidades.
Não me entenda mal, senhor comandante, não sou contra blitz. Acho importante o trabalho da Lei Seca, que tem evitado mortes causadas pela mistura álcool e volante. Porém, como insulana, ao enfrentar tanto tempo parada dentro do ônibus, penso que são menos horas de sono (sim, eu estudo à noite!), estudo, ou de estar com a minha afilhada.
A Ilha é a porta de entrada e saída para os que escolheram o avião como meio de transporte. às vezes penso na apreensão, no medo de perder o voo. Acho que engarrafamento perto do aeroporto internacional não deve deixar boas lembranças da cidade para os turistas que visitam o Rio...
Sabe, senhor comandante, no engarrafamento, eu tenho vista para a ponte velha do Galeão, e nela vejo vergalhões aparentes grades quebradas, blocos de cimento soltos. Também tenho vista para a Baía de Guanabara, ainda agonizante e suja (não apenas pelo esgoto, mas também pelo lixo que por ela boia).
Talvez, no seu carro, o senhor veja os mesmos problemas que eu: favelas crescentes, calçadas quebradas, asfalto ruim, prédios pichados, moradores de ruas (moradores que até dois anos trás não eram tão numerosos). O senhor vai dizer que tais problemas não são da sua alçada. Eu sei disso! Por isso, peço ao senhor para que ao encontrar o prefeito ou o governador, no lugar dos cumprimentos, peça a eles que olhem para a Ilha com carinho, e não apenas como um palanque eleitoral, um local para pedir votos.
Agradeço a sua atenção!
Att.,
Tatiana.
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