Sou insulana!

Senhores Prefeito e Governador, tudo bom? A vida vai bem?

Bem, vocês não me conhecem, mas as atitudes de vocês atingem e muito a minha vida... TODOS OS DIAS! Eu nasci no Hospital Municipal Paulino Werneck, na Ilha do Governador, região em que vivo até hoje. Talvez os senhores não conheçam a região, ou o conhecimento se limite ao Aeroporto Internacional. Aliás, eu acho graça quando na Zona Sul, ou na Barra as pessoas reclamam sobre o barulho dos aviões decolando ou pousando, pois desde criança ouço e vejo os aviões saindo do Galeão, isso sem contar o treinamento do pessoal da Aeronáutica e da Marinha (em alguns casos com helicópteros). Apesar do barulho, nunca me incomodei até porque sei da importância que tem para cidade e para o país.

Acho que uma das características dos insulanos é a paciência, já que sempre a Ilha é deixada para segundo plano nos investimentos dos governos. Quando eu tinha 10 anos (hoje tenho 27), rolou um abaixo-assinado entre os moradores pedindo um novo hospital que só será atendido daqui a alguns meses (e ainda em um terreno que a população não queria). O senhor governador me dirá que implantou a UPA no Cocotá, mas eu já fui à UPA, levei mais de 4 horas na fila e não fui atendida. A minha afilhada precisou de atendimento pediátrico e nem a UPA e nem o hospital municipal Paulino Werneck tinham pediatras de plantão. Minha mãe teve de tirar 70 reais para levar a Mayara (esse é o nome da minha afilhada) à emergência de um hospital particular. Imaginei o desespero das pessoas que não teriam dinheiro para pagar o atendimento dos filhos (imaginem se fosse com os filhos dos senhores).

Trabalhar fora da Ilha significa sofrer por horas em engarrafamentos para ir e voltar do trabalho, já que dividimos a Linha Vermelha com quem vem da Baixada e com a galera que pega a Linha Amarela. E vale lembrar os engarrafamentos provocados por blitz que raramente são justificadas. Além do cansaço passamos por isso também. Complicado, senhores! Complicado! E andar pela Ilha? A pé ou de carro é um sofrimento, pois temos calçadas destruídas (por falta de fiscalização) e asfalto ruim. Sim o programa asfalto liso veio à Ilha, mas a primeira fase só foi da descida da ponte nova até a Peixaria. E coincidentemente resolveu chegar ao Casa Show nesta época do ano. Desculpa! Esqueci o trecho próximo ao Cacuia. Foi mal! E as Canárias ganharam uma clínica da família, mas a via ganha pouca atenção sobre os quesitos limpeza e pavimentação.

Há anos alimentam as nossas esperanças de ter metrô na Ilha, que parece ter sido substituído pelo BRT. Ao sair da Ilha vejo placas que anunciam as obras da Transcarioca. Dias depois vejo os tapumes fechando os retornos da Estrada do Galeão na altura da Base Aérea. Ontem vi a retirada das árvores do local. Ao ver o projeto (http://www.youtube.com/watch?v=k0bzlOWcQm4), vi que os retornos foram perdidos para sempre, e no lugar terá uma estação e pistas. Mais concreto e asfalto, sendo que há uma pista para o Aeroporto que poderia ser ampliada. Juro que não entendo a construção de mais um viaduto, se há outro que precisa de manutenção do asfalto. Aliás, falando em manutenção, não sei quem achou que a moda é construir ponte estaiada, que segundo o meu irmão (que é arquiteto) custa muito mais para construir. E ficará brega uma ponte diferente, tendo outras três em outro estilo na região (sem contar que a ponte tirará a vista para o Pão de Açúcar). Não sei se os senhores conhecem a ponte velha do Galeão, mas esta sofre pela falta de cuidado. O caminho para o pedestre é péssimo e falta uma parte do guarda corpo há mais de um ano. Vejam por vocês mesmos o estado da calçada (peço desculpas pela foto, mas é complicado tirar foto com o ônibus em movimento).


Vocês poderão dizer: por que você não utiliza as barcas como meio de transporte? Pois bem, eu lhes convido para usar as barcas do Cocotá (mas, por favor sem avisos à concessionária). Notarão os belos veículos com cara de que vão dar defeito no meio da baía e a tarifa muito mais alta do que a passagem de ônibus. Ah! Sem falar que não circula o dia inteiro, somente pela manhã e no final da tarde.

E andar de bicicleta? São poucas para não dizer raras as ciclovias (e a do Corredor Esportivo, no Moneró só uma parte está sendo refeita agora). Aliás, se citar as ciclovias e esquecer das opções de lazer das crianças é absurdo. Brinquedos e bancos de algumas praças da Ilha foram pintados em vez de serem trocados ou restaurados. Para que os senhores não duvidem de mim, abaixo deixo a foto de um dos bancos do Corredor Esportivo.


Aliás, algumas barras e paralelas estão pedindo por uma reforma. Eu sei que puseram um aparelho novo que condensa várias tipos de barras, mas deixar os antigos que ainda são utilizados por muitas pessoas é um  contra-senso, principalmente para governos que se vangloriam de trazer eventos esportivos para a cidade.

Eu não sei se os senhores sabem quão é ruim morar a 10 minutos da praia e não poder aproveitá-la por conta da poluição. Quão ruim é pegar dois ônibus para ter o direito a um banho de mar, afinal o calor carioca no verão clama a água gelada do mar. Acredito que os senhores não sabem o que é isso. Mas, os insulanos sabem. E coitados dos garis que vejo limpar a orla todos os dias por causa dos porcalhões que jogam lixo no mar. E o mangue? Ganhará uma vila olímpica, embora a população da região tenha pedido para que fosse construída em outro ponto da Ilha e não na área do mangue. =/

Bem, senhores! O que eu relatei é só um pouco dos problemas que enfrentamos na Ilha. Só peço para que ao aparecerem por aqui, não tragam a imprensa para fazerem propaganda de si mesmos. Por favor, tragam propostas e iniciativas reais que ajudem a Ilha a melhorar e não a abarrotar com outros problemas.

Grata!

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