O introspectivo e o coletivo

Faz 10 anos que eu resolvi me mexer além dos jogos entre amigos (queimado, 7 cortes, pique-qualquer coisa, etc) e as atividades obrigatórias do colégio (handball, futsal, e a minha tentativa no vôlei). Resolvi caminhar e entre as razões para decidir colocar o tênis no pé e andar pela Ilha estavam o pé na bunda que levei (e que estava me deixando mal em casa), o fato de não ter grana para fazer atividade física em algum lugar e a consciência de que deveria fazer algo concreto pela minha saúde. E foi aí que eu vi a possibilidade de utilizar as minhas pernas para isso, até porque eu não sei andar de bicicleta. 

Quanto mais caminhava, mais gostava. E isso me levou a ter interesse em outras atividades (trilhas) e me fez ter menos interesse com o volante de um carro. E como eu não tinha grana, perceber que as minhas pernas me levavam a qualquer lugar, me fez não ser tão dependente até mesmo de amigos para ir ao cinema, ou showzinho, ou qualquer coisa. De certa forma, caminhar me fazia pensar na vida, tipo uma terapia. Eu tenho o meu ritmo de andar e quase sempre é mais acelerado que o da maioria, então não curtia muito ter companhias nas caminhadas. Claro que encontrar um amigo de longa data sem querer é ótimo, e conversar com eles sempre é excelente. Mas, ter companhia tira um pouco daquele tempo que eu tinha para pensar em  problemas e possíveis soluções (eram mais sonhos mesmo), coisa que não conseguia me sentir bem para fazer em casa.

Caminhar me abriu a cabeça para pensar em praticar outras atividades, e me fez conhecer pessoas que faziam as mais diversas coisas. O local que eu caminhava tinha uma pista de skate (bowl) em que eu acabei fazendo amizade com os garotos que andavam de bmx e alguns que andavam de skate. E talvez tenha sido o culpado por não me fazer estranhar a ideia de andar e treinar parkour por aí. Enfim, eu aprendi a gostar de movimentar o meu corpo,  e, óbvio, notar as transformações que essa vontade de me mexer provocava nas minhas pernas, fez com que eu me sentisse bem melhor (se você não sabe eu não me considerava bonita ou atraente na adolescência... não mudou muita coisa, mas estou bem melhor). Ficar um tempo parada começou a me deixar inquieta. Tanto que um ex-namorado falou várias vezes por aí (criou uma imagem de) que eu sou viciada em atividade física. Eu acho que não...

Uns cinco anos após a decisão de caminhar, eu conheci o parkour através do meu melhor amigo. Mas, só me tornei uma praticante da atividade quando organizei de fato a minha vida. E depois disso não larguei. Aliás, só me afundo e me comprometo mais (ahahahaha...). E cada coisa que ia aprendendo, ou entendendo como meu corpo precisava fazer para melhorar em alguma outra coisa, me deixava feliz. Durante esse tempo, já vi muitas pessoas começarem e abandonarem a atividade e alguns ficarem pelas amizades. E eu me vi no desafio de quebrar um bloqueio mental de treinar sozinha.

Uma coisa que eu percebi que sempre rola aquela reclamação do pessoal de uma atividade de que o pessoal está esvaziando o treino ou a aula, e blá blá blá. Observando o que vejo nas praças, parques e treinos, já notei que o problema não está na atividade, mas na motivação do indivíduo para levantar, sair de casa e se mexer sem ser no "halterocopismo" ou no "halterogarfismo" (comentário que um amigo da minha adolescência fazia sobre ele mesmo). Eu percebi que muita gente precisa que haja uma pessoa, não para orientar, mas para cobrar que ela se mexa.

Normalmente, você vê pessoas indo sozinhas para fazer alguma atividade no verão. Sobre isso eu faço duas especulações: 1- o calor do 'lar doce lar' da pessoa a obriga a sair; 2- muita gente quer exibir um corpo bonito na praia. Nas outras estações o pessoal depende de uma companhia e de uma lista vazia de desculpas prontas para faltar à natação, à caminhada, à musculação, a qualquer coisa que o sujeito diz que pratica. E não é todo mundo que vai à praia no inverno, né?! Não é uma crítica, é só uma conclusão: muitos não gostam de se exercitar, eles gostam de praticar atividades que remetam ao coletivo. Não, eu não tô viajando.

Quando eu vou às praça da Ilha, canso de perceber quem são os que utilizam as barras para o seu treino pessoal. Quase sempre são os que ficam mais quietos e que ao abrirem a boca dão uma dica para corrigir a postura ou algo similar. Quem vai pela 'galera' quase sempre está em conjunto (êêê... redundância!) e são os que soltam as piadinhas no estilo frango, falam de tomar algo para crescer e riem quando o outro não consegue fazer algo (em vez de ajudá-lo). Só citei a coisa das barras como exemplo, mas já vi nos treinos de parkour, na corrida, na natação. Não vejo muitas pessoas que encontram nelas mesmas a vontade de se desenvolver. Os poucos que vi quase sempre são apelidados como 'insanos', 'burros' ou 'vaidosos'. Eu falo em desenvolvimento porque ao longo desses dez anos, eu percebi a mudança que provocou em mim.



Pois é... eu prefiro o dia!

=]


Comentários

JJ disse…
Pois é, mas você também já treinou de madrugada! rs

Muito bom o texto garota, e com certeza a motivação pessoal é o mais importante pra tudo, de nada adianta alguém te motivar, tem de correr atrás sozinho mermo!

att JJ.
Bela reflexão, esse é o caminho: perceber-se no meio enquanto Ser que precisa se movimentar! Pois a vida é movimento, o mundo é movimento. E se nós não nos movimentamos, perecemos. O corpo perece: fica "enferrujado". A mente perece: fica convencional. O espírito perece: fica poluído. A verdadeira motivação sempre irá vir de dentro para fora, mas nesse processo, não se esqueça que os verdadeiros aBigos (hehehhe) estarão ao seu lado para te ajudar na sua evolução. Ajudando de forma verdadeira: oferecendo desafios, sugestões e críticas construtivas e não "palavras meigas" e falsas de incentivo. Tamo junto aBiga!


Eu sou um dos "insanos" hahahahaha.
Tatiana Maria disse…
Obrigada, meninos! =]

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