Kiev - parte 3 - Myway
Um mundo de expectativas! Assim que posso definir a primeira vez que entrei na Myway. Tinha deixado de ser o site, os vídeos e as pessoas de um país distante. Eu estava ali, e depois de receber a chave do vestiário, olhei aquele corredor (tem como não amar o clima que ele produz?), ainda calmo e a fala da Camila estava na minha cabeça: "Tô muito feliz porque você vai realizar o seu sonho!".
Lá fui eu para a aula de alongamento. E a triste constatação: meu alongamento estava horrível. Ou melhor, acho que por algum milagre encosto a mão no chão, porque o resto... Culpa minha por uma negligência nisso há mais de um ano. Nunca tive a flexibilidade de uma bailarina, mas também não era a de uma tora de madeira (agora que voltei, preciso de vergonha na cara para não continuar com esse alongamento ruim). Embora frustrada com o meu alongamento, tentei relaxar e aproveitar como podia.
Fim da aula, e lá estava eu na recepção ganhando o quadro de aulas. Com o papel na mão olhei aquele quadro imenso com as fotos de todos os professores. Eis que surge a Angelina, e tenta me convencer das aulas que eu deveria fazer de hip hop. "Todo mundo gosta deles (Dima, Miss Lee e Denis). As aulas são as mais disputadas". "Angelina, tem aqui que eles dão várias aulas para turmas mais avançadas. Vou atrapalhar mais os caras do que aprender (...) Ok! Vou tentar UMA vez!". Meu quadro de horários ficou rabiscado e eu só voltei perto das 17 horas para a aula da Miss Lee. Mesmo que se eu pensasse em não fazer, as pessoas me empurrariam. As pessoas que fazem aula com ela são apaixonadas pelas aulas dela.
A pergunta básica do primeiro dia de quase todo mundo que eu falei neste dia foi: Por que Ucrânia? Quando respondia que era por causa da Myway, as pessoas questionavam como eu soube da existência. Youtube! Me lembro até do rubor no rosto do Volosov quando disse que um dos vídeos dele me fez procurar saber o que era a Myway.
Embora não dançasse, sempre assisti a vídeos de dança. Não preciso nem falar que eu gosto do trabalho do Kazaky e sempre me chamou atenção como o grupo com pessoas de estilos diversos conseguia trabalhar bem em conjunto. Quando estive na Myway, entendi melhor porque isso era possível. Como disse a Alexandra, você quase não vê grupos separados de cada estilo. Você vê as pessoas se misturarem e conhecendo outros estilos. Me lembro de uma conversa com a Julia, para a mesma era estranho pensar em grupos de estilos fechados. E andar pelo corredor da Myway é justamente presenciar isso, você vê as pessoas se misturando, ensaiando na frente dos espelhos, um clima único.
Pensando nos professores, você nota que todos (pelo menos com os quais eu fiz aula) gostam do que fazem. E pensando como alguém que estudou para ser professora, é interessante participar de uma aula na Myway porque não há provas, notas para avaliar desempenho. Como motivar o aluno e extrair dele o melhor? Você vivencia isso! E apesar das turmas lotadas, você percebe o controle e a atenção individual. Pense que você está na aula e que está fora da mira do professor, quando menos notar terá alguém do seu lado corrigindo e te ajudando a chegar lá. Acho que professores de escolas e faculdades deveriam experimentar alguns dias na Myway para repensar o seu jeito de dar aulas. Enquanto lá estive, fiz uma salada de ritmos. Era um quebra-cabeças corporal e sonoro que me fazia um bem absurdo.
Cada professor tem um jeito de lecionar, um jeito de sorrir e de te fazer participar da aula. Às vezes me pego imitando a contagem da Miss Lee, ou o direita e esquerda do Artem (não, não sei pronunciar o sobrenome dele!), ou a sonorização do movimento pelo Dima, e de ficar surpresa com a Marina super boy na aula de hip hop e depois diva de salto (eu ainda sigo a prática de um passo e dois tropeços com salto alto... melhor ficar no tênis mesmo!).
Alguns professores até passam sérios por você pelos corredores do centro de dança, mas são completamente receptivos e dedicados quando passam pela porta para dar aula. Acho que foi por isso que não me contive e chorei quando fui me despedir do pessoal na semana passada. Eu sei que voltarei daqui a alguns meses à Kiev, mas é como se tivesse deixado uma parte minha por lá. Chorei em alguns momentos na viagem de volta pensando nisso. Eu tenho a minha vida no Rio, tenho amigos queridos e mais do que importantes, família nem preciso dizer que é o ponto que eu sentia mais falta (e o café também, porque café instantâneo é muito ruim!). Agora eu entendo a mensagem da Angelina afirmando que seriam dias felizes. Ou melhor, agora eu sinto por quê. E uma parte minha agora pertence à Kiev e àquele corredor.
Como algumas pessoas vieram me perguntar sobre como funciona o programa, a escola, a acomodação, deixo aqui o link da Myway e o e-mail de contato dos projetos:
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