Lviv - A primeira parada


A ansiedade chegou bem antes de eu colocar os pés no trem para Lviv. Era a segunda parte da viagem que me dava mais medo, Estava sozinha e em partes desse rumo estaria sozinha em algumas cidades. Para ser sincera não estava com medo. Estava em pânico.  Desde sexta qualquer conversa com amigos me fazia chorar. Só de pensar que estava deixando alguns amigos muito muito muito muito (muito mesmo!) queridos ficava nervosa. Era como se uma parte do coração fosse arrancado.  Imagina a hora que estava no trem e o mesmo partiu.

Depois de muitas mensagens trocadas, muito choro e oração, peguei no sono, sonhei com lobos maus (sério!), e enfim cheguei à Lviv. A ideia era logo ver como faria para ir à Lodz, só que o posto de atendimento ao turista estava fechado. Nessas horas eu tenho a certeza de que eu sou o combo da sorte. Vi que não conseguiria informação alguma e resolvi ir ao hostel, até porque estava com 1 mochila, 1 bolsa e 1 cargueira, e todas absolutamente lotadas e pesadas. A primeira mudança que percebi em Lviv foi que os táxis agora carregam uma espécie de taxímetro, só que não fica tão visível ao passageiro como é no Rio. Logo, tive de abortar a ideia de negociar o preço da corrida.

Como já conhecia o hostel e eram 7 da manhã, me dei ao direito de largar as coisas no quarto, tomar banho e dormir mais um pouquinho, pois nos últimos dias a ansiedade era tamanha que não conseguia dormir mais do que 4 horas. Nisso acordei meio-dia com uma fome maior do que a que eu tenho normalmente. "Então, vou pedir uma sugestão de restaurante para a atendente do hostel e ver como tá o dia lá fora.... O quê? Nevando? Acho que vou ter de esperar!".


A neve foi tão inesperada que nem a atendente acreditou. As árvores estavam todas verdes na cidade. Como assim, neve?! Melhor bater papo para entender como é a cidade, porquê do ódio entre Rússia e Ucrânia, e quão perto a cidade é da fronteira com a Polônia. São Pedro e Santa Sandra me surpreendendo até fora de Kiev. Melhor sair com dois casacos, uma blusa e a segunda pele. Ahahahhahahaa...

A neve parou e eu resolvi dar umas voltas, e "tcharam!" o sol apareceu. Só apareceu mesmo porque continuava um frio do cão. Voltei ao hostel para deixar os chocolates (não me julgue!), e encontrar a Sofiia. Sofiia aceitou o pedido da Sandra de me apresentar um pouco da história da cidade e me levou a conhecer a história do café na cidade, e um belíssimo pôr-do-sol. Sem contar que vi a surpresa que eles estavam preparando para a Sandra. Obrigada pelo passeio, e desculpa por tê-la feito parar 253.488 vezes para fotografar as coisas. Nunca mais esquecerei do: "Não toque em nada!" Ahahahahhaa...






Falei sobre a Olya? Era uma das atendentes do hostel que eu fiquei. Foi ela que me explicou sobre como faria para comprar a passagem para Lodz. Uma fofa. E ainda disse que não queria que eu fosse embora porque era uma boa companhia. Acho que ela nunca lerá esse texto, mas deixo o registro do meu agradecimento pela ajuda e pelo papo. Espero que esteja tudo em paz com ela, e que nos esbarremos pelas viagens da vida.

No dia seguinte à minha chegada à cidade, parti... lá pelo final da tarde com destino à Lodz. Para rever a Nika, e conhecer e treinar com a Neta. Lviv fica muito próximo da fronteira. E ficaram duas lembranças da fronteira: o carimbo no passaporte e o fato da guarda me fazer sair do ônibus para algumas perguntas e conferir se a foto do passaporte batia com a pessoa.

- Por que Tatiana? É um nome russo.

Sim! Fui questionada pelo meu nome. Só conseguia pensar: Obrigada, mãe! De novo!

- Não sei! Já fiz essa mesma pergunta para a minha mãe. Ela brigou com o meu pai para que eu tivesse esse nome. Ele queria Iracema. E ela, Tatiana.
- Qual é a nacionalidade da sua mãe?
- Brasileira
- E do seu pai?
- Brasileira também.
- Aqui é muito frio para você, não é?
- Muito!
- O que fazia na Ucrânia?
- Visitando amigos.

E antes que você pense que foi uma cena daquelas de filme policial. Foi até engraçado! No final, a guarda ainda comentou com o motorista do ônibus:
- Tatiana Maria, e é brasileira.


E assim, deixei a Ucrânia, já cheia de saudades...

E, é isso! Fui!

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