Cadê sua identidade?

Afoxé Filhos de Gandhi na Avenida Atlântica no Carnaval

Fomos ao bloco Afro Afoxé Filhos de Ghandi aqui no Rio no Carnaval. Fomos sim! Eu, minha mãe e minha tia. Voltar batendo papo com a minha tia Luzia é luxo porque discutimos assuntos diversos. Ela tocou um ponto que sempre me incomodou nos papos, textos (da galera e da mídia) a questão do "porque brasileiro é assim", "porque esse é o típico pensamento/comportamento brasileiro". Quase sempre quem diz se exclui da fala. E uma coisa que a minha tia disse é bem verdade. Falta assumir a identidade brasileira para muitos. Tem sempre alguém buscando as raízes europeias, mas saber quais povos daqui o formaram, não! Será que se nos encontrássemos como brasileiros, assumindo nossa identidade não passaríamos a cobrar as melhorias mesmo?

Vejo que tem gente que sabe mais como foi a queda da Bastilha, a Revolução Francesa, mas ignora o que influenciou revoltas aqui. Tem sempre um dizendo que somos um povo que nunca participou de guerras/ conflitos, o que me dá a impressão de que as aulas de História do Brasil não eram as favoritas de muitos. Nem de nossos livros que davam no máximo uma página (na verdade, eram dois parágrafos) sobre Canudos, Guerra da Vacina, Farroupilha,

Arte no Instituto Pretos Novos na Gamboa

Dia desses questionaram na família do meu pai sobre a parte italiana. Querem pesquisar de onde vieram. Questionei sobre as origens do meu avô que era negro. Que ninguém respondeu. Parece que é vergonha buscar de onde vieram as outras raízes. Só que eu entendo por que buscaria a parte de quem veio porque queria vir e a família sabia, se ninguém daquela parte nunca procurou a daqui?

Eu não tive a oportunidade de conhecer o meu avô por parte de mãe. Lembro-me da minha avó que tinha a pele bem escura, e que eu sempre soube que tinha origem indígena.  Em uma conversa com o meu tio, descobri que o meu avô também tinha origem indígena. Sei que os dois viveram em regiões próximas à Canavieiras. Queria muito saber de que povos vieram. Porque eu não me identifico com as origens europeias que tanto querem encontrar na minha família. Não sou europeia! Sou brasileira!

Atualmente, finalmente, fala-se sobre as negras. Só que eu sinto que matam um pouco a origem indígena quando afirmam que o mestiço seria negro. Quando me olho no espelho, vejo traços negros e indígenas, e eu não vejo problema usar as expressões "mestiça" e "miscigenada" para falar de mim. Tem hora que me vejo mais negra, tem hora que me vejo mais índia. Eu sou as duas e gosto de ser as duas. (Em 26/03/2017, ainda me questiono como vejo a minha cor... a certeza que eu tenho é a de que nunca fui branca. Ainda bate um medo de deixar as origens indígenas se perderem.)

Eu, minha tia Luzia e minha mãe

Falando em identidade, há um trabalho bem bacana de uma fotógrafa que eu imaginei como seria se fizessem só no Brasil. Imagina fotografar as mulheres de todos os estados? Como seria interessante descobrir os traços de cada região, a beleza de cada região. O nome da fotógrafa é Mihaela Noroc (http://incrivel.club/admiracao-fotografia/esta-fotografa-mostrou-a-beleza-natural-das-mulheres-de-37-paises-20155/), vale conferir o trabalho dela. E mais ainda, vale pensar como nos vemos, e por que buscamos tanto algumas origens e escondemos embaixo do tapete outras.

Conhecendo um pouco mais a História do Rio (e com isso a do Brasil), me questiono se a coisa não vem da ideia de colônia... não ver raízes nesse chão porque minha origem é lá. Quando vejo que se tentou apagar tantos os traços da colônia no Rio, e valorizam mais o Museu do Amanhã que a história da região portuária, percebo fortemente a ideia de que a História é contada pelos vitoriosos. Entenda o contada como criada também. Porque o que é popular não merecia ser escrito em papéis e ilustrado em quadros.

Foto que o Wesley Duarte tirou de mim na Praça XV

Me dói no coração quando vejo divulgarem que somos um povo apático que nunca brigou. Sério que realmente vocês acreditam nisso? Me entristece quando perguntam se estou bem quando estou com algum amigo negro. Se você se choca com o ladrão de cordão da Central, porque não se abala com ladrão da merenda? Porque quem desvia da alimentação de uma criança para mim é o pior tipo de ladrão. Já pesquisou a lista de doações de campanhas eleitorais de alguns deputados, vereadores, do atual prefeito? Algumas não parecem doações... parecem investimento.

E o que a política tem a ver com a identidade? TUDO! Se você parar de se excluir do "jeitinho", da malandragem (que você nem sabe por que usam essa expressão), talvez você perceba que é brasileiro, e daí as coisas começam a se ajeitar por aqui. Talvez se você parar de gritar que o estilo musical que você curte é cultura e não o que o outro ouve (SIM! Carnaval, Samba e Funk fazem parte da nossa cultura você gostando ou não... aliás, aprendi muito sobre a nossa história com os desfiles no sambódromo), vai entender que você mora em um solo que tem muita História para se descobrir. Sua cidade, seu país são mais do que os míseros parágrafos dos livros que  você decorava (sem amor algum) no colégio.

Com meu amigo LC no Valonguinho

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