Sabe... sou insulana! Não só de coração. Nasci ali no pichado Paulino Werneck. Não sei se o senhor conhece, já que vejo dá mais atenção aos destaques da mídia e aos espelhados (embora seja um absurdo prédios espelhados em uma cidade ensolarada como o Rio).

Eu ando a pé pela Ilha. Raramente pego ônibus para fazer algo por aqui. Acho desnecessário e caro pagar quase 4 reais em ônibus ruins e sucateados como os que por aqui andam. Triste saber que houve época de bondinho por aqui. Reza a lenda que se tirar o asfalto em algumas ruas, além das pedras é possível encontrar alguns trilhos. Você conhece a Ilha fora dos carros oficiais? Já se aventurou nos nossos ônibus? Já ficou esperando por outro na Linha Vermelha porque o 323 quebrou de novo?

Há algumas semanas divulgaram uma gravação de uma ligação sua que deixou a população de Maricá bem chateada. Se era brincadeira ou não, não sei. O que sei é que todos os dias fico bem chateada com o descaso com a Ilha. Saiba que a Ilha é mais que a escola de samba (que é amada e querida por todos aqui). A Ilha do Governador é bem antiga, porém, a ocupação em massa só aconteceu após a construção da Ponte Velha do Galeão. Aquela mesma ponte que ficou por mais de um ano sem parte do guarda corpo.

Não foi só o guarda corpo da ponte velha que teve problemas. Se você andar um pouco de carro ou ônibus, sentirá a péssima qualidade do asfalto por aqui. E se for morador da Ilha e fizer qualquer coisa no aeroporto, notará a diferença do asfalto de quem vai para o aeroporto para quem vai continuar pela Ilha. Sabe, prefeito, não é só triste, é RIDÍCULO!

Agora que o senhor sabe que a Ilha é antiga, quero que saiba também que temos diversos bairros diferentes, e que moramos numa ilha. Aquela porção de terra rodeada por mar... Mar que não posso me arriscar em um mergulho por duvidar da qualidade da água. Aliás, se quiser um banho de mar, tenho de pegar de 2 a 3 ônibus. O senhor chamou isso de racionalização das linhas, mas eu entendi mais com afastar a galera da Zona Norte e do subúrbio da área nobre da cidade (que nem quando colocou as "barreiras de som" na Linha Vermelha que eu entendi e apelidei de "esconde favela"). Só que, prefeito, você e o governador, seriam mais eficientes nisso se tirassem do papel o projeto para despoluir a Baía de Guanabara. Seria bom para os que moram na Ilha, em Ramos e em cidades próximas. Pois, ficar de duas a três horas no busão não é nada animador, e eu realmente preferiria andar meus 5 minutos para nadar em águas calmas. É sério, prefeito.

Eu falei de andar pela Ilha. Nem todo mundo faz isso. Alguns andam de bike. Conhece a nossa ciclovia? Não? Nem eu, prefeito! Algumas das nossas ruas, ganharam uma pintura para marcar por onde os ciclistas podem andar, só que continua o péssimo asfalto. E, poxa, não falta espaço para fazer marcação de ciclovia. Imagina uma na Estrada das Canárias e outra pegando quase toda orla. Seria do caramba! Só que eu acho que você ainda não percebeu isso. À propósito, finalmente saiu a recuperação (meia boca) da Praia da Guanabara, as pessoas voltaram a frequentá-la à noite (fora da área do Peixão). Porém, prefeito gostaria que o senhor lembrasse que área de lazer não se limita à calçada das praias da Guanabara e da Bica.

Não sei se o senhor sabe, a galera daqui gosta de correr e caminhar pela orla. E as calçadas da Praia Congonhas do Campo e das Pitangueiras nos fazem brincar de pular buracos. Buracos que são remendados com um pouco de cascalho e um asfalto bem ruim. Pode vir aqui caminhar aqui para ver com os seus próprios olhos. E não é muito diferente do outro lado da Ilha.... naquele mesmo corredor esportivo em que constava uma placa com o seu nome na época de secretário. Fizeram um ParCão, mas se esqueceram da manutenção da pista em que a galera corre/ caminha (e olha que não é pouca gente que treina ali).

Há coisas que eu elogio na Ilha, fora a vista, o som dos pássaros, e as crianças correndo nas praças... não tenho mais do que reclamar do serviço da ComLURB. A equipe que trabalha aqui é muito boa. e finalmente parou com a palhaçada de tirar as árvores da região (ainda não entendo quem resolveu plantar tantos pés de abiu... acerola seria legal também, gente!). Só que há outras que são difíceis de entender, como o ponto mais alto da Avenida Paranapuã, no Tauá, alagar com chuva forte. Aliás, aproveita para avisar ao Pezão (que é do mesmo partido que o senhor) e ao Dornelles que a tubulação de esgoto da Ilha precisa ser trocada. Só na Paranapuã, você esbarra com um vazamento de esgoto. Quase sempre nos mesmos pontos. Tem um perto da Chapeau Prevost que vaza pelo menos uma vez a cada dois meses, e leva bem mais de uma semana para aparecer uma equipe para ver o vazamento.

Sabe, prefeito, quando eu vejo gente mais preocupada com o que o turista vai pensar se acontecer algum problema nas Olimpíadas do que com qualquer insulano que não tem transporte e área de lazer bons para uso. Não temos metrô, as obras para transporte sobre trilhos estão mais voltados para a Zona Sul e Barra do que para onde realmente é necessário. Eu sempre deixei a minha casa de portas abertas para os meus amigos que quisessem conhecer o Rio. Hoje devido aos engarrafamentos por obras e dividir a Linha Vermelha com todo mundo, tive de parar de falar para os meus amigos ficarem por aqui. Sem contar nos vários pedidos de desculpa pelos atrasos, porque é quase impossível chegar na hora, já que o trânsito fica ruim o dia inteiro. Sabe,.. é cansativo, porque você fala sobre o BRT como solução, só que eu acho que você não tem ideia do que é o BRT diariamente.

Sabe, prefeito, eu tô cansada de você dar migalha da migalha para a Ilha e vender como se fosse a maravilha da maravilha. Porque eu sei que você nem se importa com a área fora do espaço do aeroporto. Sabe... Eu tô cansada!


PS: Prefeito, esqueci de te contar. Também fiquei chateada com a saída das vans da Ilha para o Centro. Elas sempre me salvaram tanto para o trabalho quanto para as festas na Lapa. Me sentia muito mais segura porque sabia que elas passariam e eu poderia ir tranquila para casa. Há alguns meses, fui ao aniversário de um amigo, saí da festa um pouquinho depois das 2 da manhã. Não passou nenhum ônibus em mais de meia hora que fiquei no primeiro ponto da Evaristo da Veiga. Peguei uma van intermunicipal qualquer e fui para a Central. Lá esperei por mais de uma hora e meia. E quando finalmente o 328 passou (e encheu ali), o motorista me informou que de madrugada só tem ônibus a cada 2 horas. Nem ao lazer fora da Ilha tenho direito. Nem mesmo no Carnaval que ao Centro da cidade fica intransitável temos informações. Cada dia passei por um lugar diferente. Os próprios motoristas informavam que não sabiam o trajeto porque isto dependeria das interdições da Prefeitura. E, sabe, prefeito... nosso transporte alternativo (que atende por Barcas) poderia funcionar no Carnaval... poderia, né? Poderia...