Não é mimimi!

Não é todo mundo que tem, ou quer ter o trabalho de pensar em empatia. Quando se fala em questões ligadas à mulher, então... aí que encontramos a pior face e comentários que deixariam Schopenhauer no chinelo. Só queria que os amigos e amigas refletissem comigo.

É difícil empatia quando se sabe que o coleguinha não tem respeito a quem namora (apesar de fotos juntos no perfil, não espera muito para pedir o número do telefone de outras pessoas, além de fazer comentários maliciosos). É difícil esperar muito de quem acha natural pegar no braço, puxar cabelo e xingar quando se manca que ninguém gosta disso.

É difícil esperar algo de quem acha que a sua companhia tem a obrigação de dar atenção quando ele quer (no pior estilo: se apronte que vou lhe usar mesmo que você queira dormir!). É difícil esperar empatia de quem pensa que falar vulgaridades a pessoas desconhecidas é elogio.

Toda vez que se fala de violência contra a mulher, principalmente quando um caso ganha os noticiários, forma-se um coro para desacreditar na vítima. Quem já sofreu alguma violência, ou está próximo a vítimas conhece muito bem o discurso desse coro.

Porque estava vestida de modo sensual... porque foi àquela festa... porque tem um corpo que chama atenção... porque bebeu... porque se drogou... porque andou sozinha naquela rua... porque estava no lugar errado e na hora errada... porque... porque... enquanto o porquê que importa é o de existir pessoas que violentam, pois são essas as culpadas disso, e não as vítimas.

Fui à manifestação aqui no Rio na última quarta. Senti que eram muitas mulheres cansadas de ouvir que são culpadas da violência que sofrem. eram adolescentes, jovens, senhoras, grávidas, solteiras, casadas. Um misto de Brasil. Muitas... tantas que sofreram, que se sentiram tocadas. Afinal, desde quando escutamos comentários infelizes? E isso independe da roupa que se veste.

Quando sei de algum caso lembro de alguns episódios da minha vida. Lembro minha mãe no ônibus gritando com um velho (vamos chamá-lo assim pois não merece tratamento honroso) ao perceber que no ônibus cheio ele tentou passar a mão em mim... Se você conhece a minha mãe, sabe bem que poucas coisas a tiram do sério... e o velho desceu no primeiro ponto que pôde. Lembro que ouvi o primeiro gostosa quando tinha entre 11 e 12 anos, no susto xinguei o cara (não me lembro se idiota, ou babaca, ou o que foi), dali escutei o primeiro "filha da puta".

Das lembranças do início da adolescência, me lembro de ir à casa de uma amiga e perguntar ao irmão dela que estudava na cozinha se ela estava em casa. A resposta foi que ela estava no quarto, quando voltei do quarto dizendo que ele tinha se enganado, o encontro na frente da porta da cozinha impedindo a minha saída para a rua. Segurou meu braço, tentou me beijar a força e só depois de ameaçar contar o ocorrido à família dele sobre o ocorrido que ele me soltou. Na época, nossas famílias eram próximas e a irmã e o outro irmão dele eram meus amigos. Nos meus 12 anos acabei aceitando a imploração para que não contasse nada. De tanto medo saí correndo dele, e da vida da minha amiga. Não conseguia pensar em frequentar o lugar que o irmão dela. E tempos depois o vi na rua e ele disse que sempre ficou chateado comigo porque nunca o procurei depois dele demonstrar interesse por mim.

Quantas puxões de braço e de cabelo? Quantos comentários infelizes? Perdi a conta. E eu já disse que isso não é coisa de Brasil. Viajar sozinha faz entender isso. Faz entender que não é apenas aquela memória da adolescente com corpo em transformação que é ameaçada de ser jogada na água por não aceitar a investida do troglodita (Lu, obrigada por salvar a mim e a Ju).

Coleguinhas que ainda carregam o discurso de culpar a vítima, vocês não sabem como é se sentir fraca, frágil no seu ir e vir, como se fosse um objeto. E não ter o mínimo de compaixão pelas pessoas próximas e pelo Estado nos casos de violência. Talvez vocês tenham uma pessoa ao lado de vocês no trabalho, na faculdade, na academia, na mesa ao lado no happy hour que sofra ou sofreu violência, assédio e outros abusos só por ser mulher. E é você sustentando o discurso que faz com que menos de 30% dos casos sejam relatados à polícia, já que a mulher que sofre a violência é hostilizada quando relata a alguém próximo. É dando desculpa ao culpado que você faz as que têm coragem de denunciar se sintam um lixo. É rindo das piadas sobre conseguir sexo fácil (ENTENDA-SE ESTUPRO) com mulheres bêbadas, ou com pessoas com problemas mentais que você faz que a pessoa continue achando natural agir como age. É trocando imagens e vídeos de "ninfetas" que você comete pedofilia.

Se não consegue ter compaixão pela vítima, consegue pensar que poderia ser com você? Porque divulgar vídeo dizendo que é manipulação da esquerda quando se discute sobre casos de violência contra mulher deveria te fazer pensar que droga de direita que temos. Já pensou que direito de não ter seu corpo violado não deveria ser o mínimo de qualquer mundo decente? Só pense nisso, por favor e por amor!


Só um pós escrito para as mulheres que leram o texto... Meninas, lembrem-se de que este ano é ano eleitoral. Temos eleições para vereadores e prefeito. Olhem o histórico dos candidatos e candidatas. Vejam quem luta a favor de políticas públicas para as mulheres. É importante não só ver se a pessoa é autora de projetos que prejudiquem às mulheres, mas também se assinaram projetos para que chegassem a plenário.

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1 comentários:

Diego Silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

Enquanto um pedaço de mim é feito de carne e lógica, o outro possui emoções que às vezes necessitam de um meio, de uma porta-voz. E assim, e aqui as expresso...