Ainda estamos aprendendo


Estava lembrando de como foram alguns momentos da vida para ser hoje o que sou, Lembrei coisas que escutava enquanto meu pai vivia conosco e depois quando ele foi embora. Independente de ser escolha dele, quase sempre jogavam a culpa para a minha mãe. Queria que as frases continuassem no passado, mas as ouço quando vejo casos parecidos com o que a minha família passou.

Por mais que a discussão sobre os direitos da mulher, de que cuidar dos filhos e da casa são obrigações do casal (e não da mulher exclusivamente), ainda repetimos frases que me doem por fazer lembrar o que a minha passou. Me pergunto de onde ela tirou tantas forças para seguir. Porque não foi fácil em nenhum ponto.

Acredito que ainda estamos aprendendo. Por mais que gritemos indignação quando algo chega às mídias, ainda brigamos internamente como os nossos discursos quando a coisa acontece próximo ao nosso círculo.
"Foi bom fazer, agora cuida!"
"Acreditou que ele era um bom partido, agora aguenta!"
"Alguma razão teve para abandonar a mulher."

Quem já passou por situações assim, pensa ser a única e a culpada. Viajando descobri que isso é mais comum do que eu pensava. E se algo desandar com a família afala é a mesma, e os xingamentos são direcionados à mãe. Ainda não estamos prontos para internalizar que a estrutura familiar é do casal, independente se estão juntos ou não. Mas, aos poucos (bem aos poucos) estamos aprendendo.

Estamos aprendendo ainda a respeitar a luta do outro, porque, na verdade, deveria ser nossa. Não sei se sabem, estudei no Mendes de Moraes quando as cotas foram aprovadas para a UERJ. Foi aquele bafafá e eu não entendia se aquilo ajudaria a melhorar algo. Aliás, acreditei que pioraria o ensino. Mas, aí eu passei para a UFRJ... não posso falar como está hoje a casa. No meu tempo (sou velha), a UFRJ ainda não tinha cotas, eu era uma das poucas mestiças, se falar de colégio público estadual... era praticamente um E.T. A UFRJ esfregou na minha cara a importância das cotas. Era completamente irreal, participar de processos seletivos de estágio em que eu era a única de pele mais escura. E olha que eu conheço gente que já gritou que eu sou branca. Não sou! Como já escrevi por aqui há alguns meses, sou fruto de miscigenação.

Desde criança tenho contato com pessoas que professam diferentes credos. Imagina no início da adolescência quando escutei com frequência que as pessoas do terreiro praticavam o mal. Nunca fez sentido pois nas minhas lembranças de infância sempre os vi fazendo o bem aos mais necessitados. Ainda estamos aprendendo a entender o que é respeito ao diferente. Mas, confesso que ha momentos bem sofridos de comentários, piadas, olhares infelizes. E escrevi mais esse texto para pensar nas minhas atitudes e de amigos próximos. Onde erro? Onde posso melhorar? Onde posso tirar aquele discurso de vira lata de que o civilizado mora longe do Brasil, já que a maioria do subúrbio sempre se mostrou mais amigável do que nos lugares que frequentei?

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