Pedidos aos senhores responsáveis...

Não! Não é recado de caderneta ou caderno escrito por  professor(a) ou coordenador(a). Não sou mãe, mas sou madrinha, e sempre que estou treinando, andando, conversando ou simplesmente existindo e acabo esbarrando com alguns comportamentos.


Ensinem as crianças a andar pelas ruas. Não falo sobre apenas atravessar a rua na faixa de pedestres. Falo de andar pela cidade sem preconceito de região. Sabe aquele(a) colega do trabalho que já te convidou para chá, churrasco, e o caramba a quatro e você nunca foi pelo endereço ser do subúrbio. Tome vergonha e vá. Ensinem a andar de bicicleta, a usar transporte público, e a andar a pé. O mundo é perigoso? Sim! Mas, a criança precisa crescer e saber que o Rio de Janeiro é mais que Zona Sul, Barra e umas ruas do Centro. É triste ouvir perguntas sobre se Irajá faz parte Rio (não vou nem citar nada sobre Campo Grande e Santa Cruz). Escrevi há alguns anos sobre treinar parkour e conhecer a cidade, O mundo se expande em possibilidades e o Rio em realidades.

Sejam exemplos. Se não querem adultos insuportáveis, sejam pessoas melhores. Os evangélicos sempre falam que "o exemplo arrasta", e eu concordo muito. Cumprimente as pessoas que cuidam da cidade. Lembrem-se de que o serviço do gari está ligado à sua saúde (eliminar vetores de doenças, e possibilidades de entupimento de boeiros) e não à sua falta de educação. Não custa nada respeitar o trabalho do outro, e parte do dinheiro gasto com limpeza (pela sua dificuldade de usar a lixeira) poderia ser para dar melhores condições de trabalho aos garis. Separem o lixo, mostrando a criança quais devem ir para aterros sanitários e quais podem se transformar em novos produtos. Os recursos do planeta não são infinitos...

Mostrem a realidade, ensinem o valor do dinheiro. Não deem brinquedos demais, ensinem a dividir e doar. Mas, doar o que está bom, e não o que está quebrado (porque isso é babaquice com outra criança!). Expliquem isso para as crianças, e deixem que estas escolham pensando que será um presente bom para outro que não tem. Brinquedos e roupas sempre são bem recebidos por quem tem pouco ou nada.

Aprendam sobre História da sua cidade e do seu país. Falo da História de verdade e não aquela reinventada depois que conseguiram tirar a monarquia. Mostrem as construções antigas e ensinem que é importante conservá-las para que as gerações seguintes conheçam de onde veio o seu povo. Ter consciência disso impedirá que outros governos, empresários e interessados destruam a cidade para construir espigões espelhados. Não permitam que suas crianças repitam que as populações indígenas que aqui viviam eram primitivas e burras. Essas populações foram destruídas, roubadas, arrancadas de suas terras, e nunca saberemos como eram de fato pela destruição que os conquistadores europeus causaram. Não deixem que repitam que o Museu do Ipiranga, em São Paulo, era onde Dom Pedro I morava, afinal a capital do país era o Rio. Visitem esse museu e aprendam que os quadros que sempre apareciam nos livros de História do colégio foram pintados no início do século XX. Falem da escravidão, da capoeira, da origem das escolas de samba. Não deixem que as crianças propaguem o desrespeito repetindo frases como "carnaval deveria acabar", falando que as religiões de matrizes africanas são do mal (entendam que não são!), e em meritocracia sem refletir sobre o nosso passado. Saber a origem da lei de terras no Brasil seria importante também. Pensar no futuro é importante, mas refletir sobre o passado é essencial para que não se tenha reciclagem de coisas ruins.


Deixem a criança ser criança. Menos aparelhos eletrônicos e mais tempo no quintal, nas praças e nos parques, e deixem o celular, tablet e o raio que for em casa ou desligado. Como ter interesse por brincadeiras quando os responsáveis se distraem com redes sociais e joguinhos? Deixem as crianças sonharem em ser bombeiro(a), piloto, índio, mergulhador, motorista de ônibus ou de fórmula 1, etc. Quem tem de montar a carreira que quer ter na vida é a própria pessoa. Mas, entendam a diferença entre "deixar a criança ser criança" e "transformar em pequenos reis e rainhas".

Experimentem novos alimentos, conheçam a feira do bairro. A criança precisa saber a diferença entre comida de verdade e produto alimentício. E salada não é só alface e tomate, por favor!! Se vocês não gostam de comer alguma coisa, não será tentando empurrar goela abaixo das crianças que elas comerão. Talvez se vocês se dispuserem a tentar gostar, as crianças queiram repetir. Lembrem-se de que o exemplo vale muito.


Falem sobre religiões com as crianças e o respeito que se deve ter a quem tem crença diferente da sua. Não incentivem leitura de informações erradas que acusam algumas religiões de maldade e violência. Se puderem, façam as crianças conhecerem pessoas de crenças diferentes. Talvez o contato as ensine a entender que o mundo é feito de diferentes.

Ensinem sobre a importância de cuidar das praias e rios. A vida na Terra está ligada à água e é possível recuperar áreas degradadas. Ainda sonho com um mergulho com a Baía de Guanabara despoluída. Sabe aquele conto de que todos deveriam escrever um livro e plantar uma árvore? A segunda parte eu concordo e muito!

Não é sermão, mas pedidos! Que, à propósito, guardarei para mim também. Lembrar sempre que os professores ensinam a ler, a contar e ajudam na socialização da criança. Pais e responsáveis que devem educá-los com valores.

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