Redescobertas

Foto: Diogo Nascimento

Já fiz algumas confissões de quanto 2017 mexeu comigo, me transformou. Às vezes faltam palavras para o tanto que sinto de mudanças em mim. Quem era a Tatiana nos primeiros dias dos seus 32 anos e quem é a Tatiana nos últimos dias desse ciclo? Lembro que meu 2017 começou com um banho de cachoeira porque dezembro foi um mês muito complicado em todos os sentidos para mim. Precisava urgentemente limpar as energias para o novo ciclo. Afinal, o início do ano coincide com o meu aniversário.

Eu falo de mudanças, mas talvez a palavra mais correta seja "redescobertas". Voltei a me reconectar com a Maria, a Iracema que perdi em algum momento do meu caminho. Eu digo que o primeiro semestre foi uma abertura para o corpo se reencontrar com a sua religiosidade, suas lembranças de infância (com gosto de comida caseira, cheiros de ervas, fotos que deixaram muita saudade de alguns abraços), seus medos de envolvimento, olhares, suas vontades. Quanto tempo escondi isso tudo de mim?


As armaduras e tudo que blindava o corpo (aqui eu entendo corpo e alma como uma coisa só) foram caindo, e uma sensibilidade enorme veio como avalanche, ficando cada vez maior, me derrubando em muitos momentos. Das certezas e seguranças que sempre busquei para mim, nenhuma mexeu tanto comigo quanto ser tomada por emoções. Saí do lugar. Permiti ser tocada por outro. E quando vi estava encantada. Notei que foi engano, imaginação. Daí vieram outras emoções e me vi caída por outro. Caída não! Apaixonada mesmo! Sentimento que não tinha ideia do que era, e hoje convivo.

Eu me senti à vontade com o meu corpo. Sempre gostei do meu corpo, mas a minha relação de permitir que outros me vissem sempre foi complicada. Não sou muito fã de olhares. Acho que sempre quis passar despercebida nesse ponto. Eu me senti à vontade com o outro. E foi  tão rápido que me choquei com isso. Meu corpo é lindo! Todo corpo é lindo! Tanto a visão mudou que não entendo a coisa das luzes apagadas, dos armários e a fuga dos espelhos. E olha que sempre passei longe destes. Interessante é que quem me ajudou nisso talvez nem tenha a noção do quanto fez, o quanto mexeu comigo, e o quanto me deixa com saudades. Agora a questão é: Será que continuarei à vontade com o meu corpo e o outro, ou voltarei à zona de conforto antiga? É uma dúvida que me paira.

Foto: Natty Silva

Cheiros... reconheci vários, me encantei com alguns poucos. O corpo reconheceu, remeteu a alguns momentos da infância de gente de branco, churrasco aos domingos, e muito falatório. Passei por processos, laboratórios que me fizeram questionar a religiosidade que carrego há anos por escolha. Senti falta da figura do boiadeiro na estante da antiga casa. Senti energias inexplicáveis em pessoas, lugares. Resolvi não ir contra isso, embora ainda me assuste com as sensações que tenho.  Passei por esteiras que me fizeram respeitar e sentir a presença daqueles que deram origem à minha família. E ainda me surpreendo com toda força que senti nas duas vezes que passei.


Reencontrei o caminho para natureza que esqueci por alguns momentos. E esse caminho me fez ver mais coisas do que imaginava. E dias atrás meu medo do mar foi diminuindo. Algo que só melhorarei mesmo se continuar permitindo esses encontros. Voltei a olhar o céu como tantas vezes fiz na infância e na adolescência. Contei e vi desenhos em nuvens. Parece doideira, mas sempre fui muito pé no chão, racional, caxias... voltar a essas pequenas bobeiras do dia, da noite, me reconectaram com a criança que fui. A criança de pé no chão, cabelos curtos bagunçados, sem camisa, correndo de um lado para o outro. Deixando um pouco a mãezona (rainha das broncas) dos amigos de lado. Permitindo sentir e ser outras possibilidades. Permitindo encontrar um pouco da Tati Maria que engavetei no meio da adolescência.

Os passos às vezes incertos, são cheios de significados e singularidades. Me vi possível de dançar. Me vi cabeça pensante, criativa, dançante. E deixei os cabelos irem juntos. Confesso que às vezes aparecem mais que o resto. Fazer o que se querem brilhar, né? Conheci pessoas incríveis que me fazem acreditar em mim e no que é possível construir no coletivo. Quem diria eu no palco? Quem diria com o corpo à mostra? Quem diria que estaria feliz com o resultado e os comentários ao final de cada apresentação? Quem diria que teria as parcerias de dança que tenho hoje? Quem diria que da curiosidade de conhecer um projeto, passei a integrar a família, e como esta tem me feito bem?







Não sei o que esses últimos dias de 2017 têm a me oferecer, mas os outros me ensinaram muito sobre a Tati, a Maria, a Iracema. Essa doida que é uma mistura de pretos e índios. De choro fácil e sorriso no rosto. Agradeço a todos e tudo (até mesmo as situações ruins) por terem me feito aprender um pouco mais sobre mim.

PS: Acho estranho uma postagem com tantas fotos em que apareço. Rs!


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1 comentários:

Professora Luciana Quintal disse...

Foi maravilhoso assistir a esta transformação de perto. Sou sua fã <3

Enquanto um pedaço de mim é feito de carne e lógica, o outro possui emoções que às vezes necessitam de um meio, de uma porta-voz. E assim, e aqui as expresso...