Saída do Victor


Texto que escrevi em janeiro quando fui à confirmação do Victor como Ogã.

Confesso que estava com receio. Assumi isso ao Matheus. Tanto que ele se preocupou e me acalmou. Tinha medo de bolar, virar assim que entrasse no terreiro. Sério! Medo real. Conversei com o Matheus e ele disse que entendia, mas que não era para eu me preocupar porque só estando no terreiro para saber o que acontecerá e que não valia a pena sofrer por antecipação.

Chegou o dia. Passei antes na EEFD para pegar a câmera com o Eizemberg. Foram 3 conduções. Um calor do caramba e eu de saia longa. Achei o barracão! As pessoas recebem de braços abertos e sorriso na cara. Mais convidativo? Impossível! Encontrei a Simmone, depois o Xandy veio. Como estava feliz por eu ter ido. Me apresentou à mãe Nara, que me recebeu com um abraço forte. Ivy, Raquel, Bruno, André e mais algumas pessoas da Companhia Folclórica também foram à celebração.

A entrada do barracão era repleta de plantas. Eu conhecia todas. Olhei para essas e me senti criança no quintal de casa. E isso foi tão forte que, no dia seguinte, fui procurar algumas fotos para confirmar quais eram as plantas que a gente tinha no quintal de casa. Memórias soltas que tento juntar.

O calor do dia só não era maior que a energia que o barracão emanava. Era uma energia boa. Meu corpo sentia isso. Ainda estava apreensiva de virar, cair, sei lá como chamar isso. Quando o Xirê começou, a energia aumentou. Me acalmei quando a mãe Nara me viu e sorriu. O receio passou e eu senti que nada que eu temia aconteceria.

Meu medo vem muito do "se eu tiver prova, eu posso mudar". Sim, Táti São Tomé. E já ouvi que teria de raspar a cabeça. Entendo como nascimento, só que é complicado quando a minha vaidade é ligada quase toda aos cabelos. Será que se eu recebesse esse chamado eu conseguiria me desfazer dos meus cabelos? Fico bem na dúvida.

Finalmente Victor e a outra menina entraram. Esbanjavam alegria. Como era bom de ver aquilo. A mãe do Victor emocionada, feliz pela escolha dele. Cena linda de ver. Ver o Xandy tomado pelo seu Orixá foi lindo demais. Estava em transe, entregue. Algo que não me lembro de ter presenciado em nenhum momento. Era forte, delicado, vivo e ligado à terra. Fiquei encantada com a energia que emanava durante a celebração.

Outra coisa que me chamou atenção  era que ali eu não via a vaidade dos convidados de estarem assim ou assado, com uns olhando os outros. A beleza estava no que aquilo significava para quem estava na roda. Todos celebravam e apoiavam aquela escolha. A festa era pela escolha e não para os ornamentos e vestes mais interessantes. Era para a resistência de manter viva uma fé de diversos povos.


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