Solidão


Vou falar sobre isso em mim. E antes que alguém venha com um "você tem de gostar da sua própria companhia", VTNC, porque não prestou atenção no que leu.

Esse blog já tem uns 12 anos. E assim que comecei a escrever por aqui, estava no início de um relacionamento. Tem até uma postagem muito antiga dedicada a ele. Voltarei a falar sobre esse relacionamento mais para frente.

Há um tempo o tema solidão aparece nas minhas leituras. Era uma sensação que eu tinha e achava que era só comigo. Há menos de 3 anos descobri que não estou só. Outras pretas e mestiças têm a mesma sensação. Sou fruto de um relacionamento interracial. Mãe filha de uma "índia" com "português" e pai preto. Vi as traições do meu pai com mulheres brancas e depois o abandono familiar. Quando pensei sobre essas memórias, percebo que meu medo de gravidez é não ter um parceiro comprometido com a criança. Assumindo  a responsabilidade, os estresses, o tempo e os cuidados. Nunca vi criança como resposta a me tirar a solidão. Não faz sentido isso para mim.

Não me considero genial. Aqui qualquer coisa para ser aprendida leva muito tempo de ensaio, treino e leitura. Sempre fui aberta a ouvir as pessoas. Aprendo muito com essas. As titulações afastam algumas boas conversas. Por isso nem sou de falar minha formação. Se estiver curioso, o lattes existe para isso. Bem, durante a adolescência era chamada de CDF. Das poucas vezes que ouvi que era bonita durante o colégio, uma delas foi de um cara que eu tenho um carinho enorme até hoje. Eu não era o perfil de nenhum cara por mais que tenha ficado com alguns em segredo (porque as outras pessoas não precisavam saber). Passei invicta na adolescência no quesito namoro. E eu ouvi algumas amigas falando que evitavam conversar o que sabiam porque isso afastava os caras. Eu me questiono se isso seria real, mas lembro a quantidade de vezes que já adulta, alguém me colocou como se fosse burra, e se assustando quando eu entendia bem do que falava.

Estava passando batida pela faculdade também. Escutei convites para um chopp (mesmo não bebendo) de quem tinha me zoado no colégio. "Não. Obrigada!". Até a hora que depois de um sumiço de um rolo (um que me apaixonei na adolescência e foi um some e aparece até o início da juventude), acabei ficando amiga de um cara com qual treinava e aceitei um convite para sair. Para quem saiu com um amigo, foram mais de 4 anos de relacionamento. Que não pensei mesmo que fosse acontecer quando ouvi uma vez que era bom as pessoas não saberem sobre estarmos juntos. Falei para mim mesma que seria a última vez que sairia com a pessoa. Mas, a intenção da pessoa de firmar um relacionamento veio dois dias depois da fala. O relacionamento teve altos e baixos, tenho críticas a mim e a ele. Porém, o fato de ser assumida fez girar uma chave que pensei que não era possível para mim. E é uma parada que noto muito nas amigas pretas quando estão namorando: o sorriso ao andar de mãos dadas. Algo que notei quando percebi que a solidão era um fenômeno social, e não exclusivamente meu.

Lá para o começo de 2013, o relacionamento terminou. Restaram várias mágoas e dúvidas que, com a orientação de uma amiga, procurei ajuda profissional. Hoje com o tanto de coisas que descobri em mim, vejo a necessidade de voltar assim que possível. De 2013 para cá as poucas pessoas que passaram foram como um furacão. Às vezes uma sensação de terra arrasada, às vezes (quase todas) uma sensação de "já esperava". Às vezes uma sensação de fetichismo, às vezes uma sensação de olhar um relacionamento como construção ser algo só meu. 

Em quase todos que passaram há uma ferida comum que não tem a ver com os caras e sim comigo: a seguinte quase sempre é branca e digna de fotos, de ser apresentada a todos. Nessas horas vem a sensação de insuficiência. Entendo que amor, paixão ou qualquer coisa semelhante é encontro, é sorte. E quando a sensação de insuficiência vem, prefiro me blindar e buscar outras coisas para vida. Não posso reclamar. Tenho boas amizades e já conheci lugares sozinha que só tenho a agradecer a proteção do Divino. Digo isso porque tem lugares que não eram tão seguros assim.

Já ouvi de alguns "amigos" que eu deveria ser mais aberta às propostas dos caras. Eu me irrito com essa fala porque parece que eu tenho de servir, caber nas vontades, nas falas pouco respeitosas. Quando é que sou vista como gente? Já recebi mensagens revelando um grande interesse em mim, e ao ouvir que poderíamos sair sim, zero movimentação para marcar qualquer coisa. Tem hora que parece que fui eu que falei que queria sair com a pessoa porque quem pergunta sobre quando marcaremos algo sou eu que faço. Já tive muitos momentos de pensar outras possibilidades de me relacionar. E uma foi a de querer ter um "p.a.". Obviamente não é para mim. Levei bolo duas vezes. Ahahahahaha... Algumas pessoas ainda não aprenderam a dizer não quero. Acham que o bolo vai doer menos que o não. Na boa, eu prefiro o corte seco ao lenga lenga.

Bem, a sensação de solidão é muito por querer dividir uma conversa, um cafuné, uma caminhada, um aprendizado. Nunca fui de provocar paixões arrebatadoras, como é possível de entender no texto. Isso não quer dizer que ninguém me quis. O querer no geral é só pelo "exótico". Uma amiga disse que os traços chamam atenção. E eu entendo que é só isso mesmo. Relacionamento, para mim, é construção. Por mais que eu não tenha muita sorte nisso, fico feliz de verdade pelas pessoas que conseguem viver isso. Enquanto isso, continuo fazendo meu café. Quem sabe um dia a sorte de uma conversa e um sofá.

Ah! Escrevi que a solidão é um fenômeno social. É uma construção. Alguns amigos se sentem ofendidos quando se fala da solidão da mulher preta. "O amor não tem cor". Mas, será que o que idealizamos como bonito, como digno de amor não tem relação com a construção histórica do país? Essa discussão de agora acredito que só trará frutos no futuro. 

Ps: Digitei tudo no celular como veio à cabeça. Então, relevem qualquer erro de digitação, concordância, ortografia.

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