Comentando sobre um videoclipe
Faz uns 150 mil anos (bem exagerada mesmo!) que não escrevo por aqui sobre arte de outras pessoas. Nos últimos tempos esse meu espaço virou quase um caderno de poemas em versos livres. Hoje, escrevo sobre um trabalho que tenho devorado há umas 3 semanas. Digo devorado porque é bem isso mesmo.
Esse vídeo veio num período em que tenho pensado nessa identidade latina e como isso não é pensado quando se fala em Brasil. E a latina tem uma história em comum de muitos abusos, escravidão, lutas, ditaduras e opressão. E o trabalho do Residente, artista porto riquenho (não vou chamar de cantor porque o cara é muito mais que isso pelo que tô conhecendo do trabalho dele), traz tudo isso. E quando escrevo que esse trabalho veio no momento de muitos questionamentos, é bem real. Estou com a leitura do livro "Casa Grande e Senzala" parada há mais de dois meses por falta de estômago para continuar a leitura. É muito tenso ler e identificar discursos que perduram. Principalmente quando se fala de uma imagem da mulher brasileira. Será que isso aconteceu na América Latina toda?
Para quem não passeou pelo YouTube a última música que ele lançou foi "This is not America". E, com toda sinceridade, acho muito pouco quando falam que é apenas uma resposta ao "This is America" do Gambino. O vídeo traz várias histórias. Das minhas curiosidades é saber quem fez a pesquisa histórica para o videoclipe porque é foda demais. Até o detalhe de danças como Tango e dos Machetes misturadas às lutas, mostrando que o movimento dançado reflete o que é e o que se faz na vida. Pesquisadora de danças populares gritou alto aqui.
As cenas que aparecem os homens rezando me lembraram muito como a religiosidade é uma forte presença nas culturas populares. E ao mesmo tempo que produz folguedos e danças lindas que falam muito dos povos, eu penso que a criança como o cristo redentor me lembra das missões que tiraram a oportunidade de conhecer a língua e as histórias de origens da família materna. Por que tamanha devoção à reza católica e um nome e um sobrenome branco em traços que nada se assemelham ao colonizador?
Se você ainda defende o presidente do nosso atual "desgoverno", recomendo urgente que veja, talvez abra os olhos para todo horror que esse ser representa. E aqui vale acrescentar que você também deveria repensar porque há bancada da bíblia e essa mesma apoia esse presidente. Tem visto as notícias? Soube do Acampamento Terra Livre? Soube do relatório do que está acontecendo com as mulheres yanomamis? Busque saber.
Voltando ao clipe, Residente traz imagens que falam de uma América Latina entre lutas e opressão. Observa os que estão no poder. Importam-se com o povo? E ao ver o clipe noto a repressão policial não é também uma extensão do capitão do mato, como acontece no Rio. Qual presente e futuro possível são destinados às pessoas? Existe ascensão social? Há uma frase do Darcy Ribeiro que é verdade até hoje: A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto. Observa as falas dos últimos ministros que tivemos dessa pasta e entenderá.
Vale assistir o clipe (abaixo) e depois procurar a galera explicando as cenas. Se você é professor de história ou de geografia (principalmente quando traz geopolítica para as aulas), vale trocar figurinha com os alunos sobre esse clipe. Meus amigos que são professores já receberam mensagem minha falando isso. Reforço aqui, porque sim!
Acredito que é uma obra para pensar sobre micro e macro. Pensar situações locais e como estas são reflexos de uma mesma história. E para lembrar que Brasil é parte da América Latina sim.
Sim!! Residente mexeu comigo como o BaianaSystem mexe.
PS: Ainda tenho meus questionamentos com o continente carregar o nome de um invasor. Porque tinha muita gente aqui antes. Mas, isso sou eu, né? Estava olhando meu caderno (tenho um caderno em que escrevo poemas e outros textos) e encontrei um escrito das primeiras vezes que vi o clipe.
América
Américo deu nome a terras que tinham nome e espírito
Colonização feita a base de sangue
Dos que aqui viviam e dos arrastados para cá
Mas, quem está com nome nos livros e nas estátuas?
Viu o tanto de quem foi esquecido de propósito?
Sempre que falarem mal de um povo simples
Lembre-se de que a corja é da elite
Que carrega sobrenomes (sem a preposição de) e costumes da colonização
E infelizmente é a que tem poder de inventar a história
E chamá-la de oficial
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